Rusá - Dançantes (2016-2017)

Na contramão das convenções da street photography, em “Dançantes” (2016-2017) foi criado um dispositivo (o estúdio fotográfico em uma garagem) que opera primeiramente pelo convite aos dançantes para posarem a um retrato. Nesta atitude, em que cada fotografado tem um maior domínio de sua própria imagem, revelam-se camadas que são pouco visíveis nos registros fotográficos velozes feitos por visitantes durante o cortejo. Os jeans, tênis, camisetas de malha, relógios, além dos olhares e posturas, aparecem embaixo das fardas, transbordando as particularidades destes sujeitos que normalmente são visualizados no âmbito coletivo.

A opção pelo estúdio fotográfico não é casual. O excesso de fotografias do congado enquanto manifestação pública, sobretudo após o advento da fotografia digital, contribuiu para certa redução da festa e da dança a uma dimensão de espetáculo, esvaziando-a da especial devoção envolvida no culto à Nossa Senhora do Rosário e da preservação e valorização dos saberes e ancestralidades que sustentam esta manifestação religiosa. Além disso, no cortejo não é reservada aos dançantes a decisão de serem fotografados e normalmente aparecem em meio à multidão em fotos disparadas rapidamente, confundidos entre outros corpos, o que justifica ainda mais a preferência pelo dispositivo do estúdio.